Mensagens

O despertar

Imagem
O sono de tantos anos fez-me fraco. A vida passou-me ante aos olhos. O escuro dominou-me angustiosamente. Não tinha mais como ser tão opaco.  A cegueira da beleza de uma flor arrastou-me aos arames afiados de um cinza amargo. A luz passou-me ao lado. Pesadelos infames. Era tudo que menos procurava.  Agora ao Eterno revi e vi a luz intensa. Candela tão forte que nunca apaga. E tão grande sinto-me e tão longo é o dia. Verão de meus olhos desacostumados. Mas aos poucos da caverna saio mais puro. Em mim sinto-me o sopro renovado, do chão que não mais alardeia um vazio, mas sim um momento de cioso lume.  O mar, o céu, estrelas luminosas à noite. Pássaros, animais em esplendor. Pessoas mais claras e tão ricas. Esta briosa sensação de tanto amor.  Assim eu me converto à luz novamente. ao Todo-Poderoso aclamo e faço Shacharit. Um vinha que dá frutos todos tão elevados que o vinho que produz é uma ode ao belo e charmoso mundo.  Assim fica mais leve o dia. Assim fica mais

Expulsão dos Judeus da Península Ibérica

Imagem
31 de Março de 1492. D. Fernando, rei da Sicília e Aragão, e D. Isabel, herdeira aclamada de Castela e rainha de Leão e da Galiza assinaram em Alhambra, na Granada Andaluza, um decreto. Tal decreto foi baptizado como Édito e dava a todo o Judeu, de qualquer que fosse a sua origem, estrato social, sexo ou idade, o tempo de quatro meses para abandonar o país cristão. Era a sentença de saída. Era a expulsão daqueles que séculos antes habitaram até então pacificamente o solo oriental da Península Ibérica.  Diz Artur Barros Basto que desde as guerras hebraicas com os sírios, guerras estas pós-alexandrinas, ou até mesmo antes disto, famílias judaicas migraram ao solo ibérico para manter-se e fugir do horror da perseguição. Estamos a falar em séculos anteriores. Mas acharam ser a hora de os judeus saírem de Espanha e assim se fez como diz a cópia manuscrita e selada pelos reis posta abaixo.   Os dias sombrios apenas começavam a surgir. Tementes da própria vida, os mais abastados judeus

Conhecer uma cidade é conhecer a sua história

Imagem
Ontem resolvi andar à noite por um Porto tranquilo, de temperatura agradável e gente amena. Era uma noite típica de primavera: temperatura na casa dos quinze graus, pessoas à conversa nas ruas e nos cafés. Flores a surgir por todo o lado. Tudo bem bonito para um pedaço de dia qualquer. Para a minha surpresa, diga-se de passagem, retive-me em pensamentos acerca do passado do Porto. O Porto só é a cidade pela qual andei lenta e tranquilamente porque, historicamente, ela foi um cidade que lutou, prosperou, sonhou e realizou como tantas outras cidades no mundo. Em outras palavras, o Porto conhece-se pelo que mostra de seu passado.  Isto está em seu rosto medieval e nas suas construções modernas. Da muralha velha até a Praça da República ou a Praça do Exército Libertador bem perto a Prelada. São estes os ingredientes que juntos formam o imaginário da cidade. Nunca o contrário. Nunca sob outra perspectiva. O mundo portuense transparece em cada passeio e isto é em todo burgo globo afo

A Europa cabe numa cafetaria

Eu entrei num café para apenas passar o tempo de domingo e vi um continente inteiro lá dentro. Uma seara de pessoas. Um amontoado de diferenças. Miúdos e miúdas, jovens com suas preocupações virtuais, adultos e suas conversas de futebol e política e por aí além - e na televisão o primeiro ministro, em tom grave, a falar o que quer com a mudança da cúpula do governo. Os idosos e idosas em seu mundo particular. Um a sair atónito da casa de banho com um aspecto de que não teriam tantas testemunhas à sua escapadela para as necessidades. Uma idosa bem rapidinha com a vontade de um café curto sem açúcar. Tudo com uma menina, cara menina, voz alta, à moda do Porto, e com uma trinca nos dentes que dava-lhe o tom peculiar a tomar e apontar os pedidos.  Eu, entre fotos e letras em meu pequeno caderno, na mesa bem no meio da Babel em língua portuguesa só observada. Sentia-me europeu. Sou europeu. Não saberia sentar em tapetes ou estar a perambular para lá e para cá sem que houvesse ao menos

O apelido "Silva" tem origem Nobre

Imagem
Aos que se chamam "Silva", o complexo de nome vulgar está definitivamente terminado. Não é de hoje que é só um mito que este nome não tenha "brasão". Em verdade ele tem diversas origens (todas reais e documentadas) e todas elas nobres. De um modo geral é na Península Ibérica que descansa a fonte dos "Silva" e esta espalhou-se para a África e América justamente com os descobrimentos e colonizações, auge deste sobrenome em todo mundo. Mesmo que o tempo disperse os reais troncos familiares e linhagens, estas, de alguma forma, entretanto, passam para cada indivíduo. Sem mais delongas vamos as três origens principais. A primeira delas é a que o rei Godo D. Alderedo meteu no filho, D. Guterre Alderete o apelido "da Silva". Aquando do casamento deste com uma filha da casa real de Aragão esta herdou o nome e levou-o ao noroeste da actual Espanha. Estamos a falar do Século X! Os Godos são justamente "bárbaros" que tomaram conta da Penínsu

O que era ser Judeu na Idade Média?

Imagem
O que era ser Judeu na Idade Média? A pergunta poderia muito bem ser reformulada: o que é ser judeu neste mundo? A resposta, se calhar, será sempre a mesma: não ter estatuto de igualdade nem de facto nem de direitos para com "os outros". Em tempos da compaixão pelo islâmico, ser judeu é praticamente - não sem uma dose de ironia - ser um tirano.  Nenhum povo tem uma história tão atribulada desde a sua génese até hoje. Os diversos cativeiros e as inúmeras diásporas revelam-nos um ambiente hostil constante ao judeu que, mesmo em tempos de paz, era marginalizado, encarcerado, colocado em um canto. Na Idade Média não é diferente. Judeus pela Europa afora, de maioria Cristã ou, mesmo, com rompantes árabes, estavam "dentro e fora" da sociedade. Dentro porque na maioria das cidades muradas e cheias de ameias, eles estavam quase sempre intramuros. Fora porque existiam sítios onde não poderiam misturar-se aos demais homens e mulheres. A condição era simples: eram toler

Política: vocação ou paradoxo humano?

Imagem
Max Weber, em seu ensaio sobre política, foi bem claro: há quem esteja na política por vocação e quem esteja na política por profissão. Benefícios ambos angariam. Ideia de poder ambos possuem. Mas aquilo que, terminantemente, diferencia um do outro é que para o segundo a política é um meio de se chegar a outros objectivos e para o outro é um fim através do qual usa a si como meio de uma melhor obtenção.  É tão claro quanto isso. Weber não sobre do mal da "vocação tratadística" que acomete tantos e tantos escritores da velha Alemanha, mesmo antes ou depois da República de Weimar. Por isso a política, para ele, pode ser sim uma vocação pela qual pode-se chegar a um lugar melhor. Mesmo com tantos exemplos práticos contrários, a sua digamos "esperança" é quase uma propaganda de alguém direccionado para os ditames da "Ágora". Isto rendeu-lhe, como para muitos escritores da viragem do século, o rótulo de "pai de Hitler e do nazismo" enquanto id