O que era ser Judeu na Idade Média?

O que era ser Judeu na Idade Média? A pergunta poderia muito bem ser reformulada: o que é ser judeu neste mundo? A resposta, se calhar, será sempre a mesma: não ter estatuto de igualdade nem de facto nem de direitos para com "os outros". Em tempos da compaixão pelo islâmico, ser judeu é praticamente - não sem uma dose de ironia - ser um tirano. 

Nenhum povo tem uma história tão atribulada desde a sua génese até hoje. Os diversos cativeiros e as inúmeras diásporas revelam-nos um ambiente hostil constante ao judeu que, mesmo em tempos de paz, era marginalizado, encarcerado, colocado em um canto. Na Idade Média não é diferente. Judeus pela Europa afora, de maioria Cristã ou, mesmo, com rompantes árabes, estavam "dentro e fora" da sociedade. Dentro porque na maioria das cidades muradas e cheias de ameias, eles estavam quase sempre intramuros. Fora porque existiam sítios onde não poderiam misturar-se aos demais homens e mulheres. A condição era simples: eram tolerados, até certo ponto, em troca de vantagens, em geral económicas, que poderiam trazer. 

Outrossim, sempre que crescia o radicalismo religioso os judeus eram as primeiras vítimas. Os fins do século XV assistiram a radicalização da perseguição e da condenação/expulsão dos judeus. A Espanha dos Reis Católicos e de Torquemada expulsou-os em 1492 - emblemático ano da chegada de Cristóvão Colombo às Américas. Portugal, quatro anos depois, seguiu o exemplo. Estes dois reinos, riquíssimos à altura, dominavam a Europa e o mundo. E o tratamento dado aos judeus fez com que estes também fossem replicados no Velho Continente. Nenhuma história foi tão sangrenta a partir daí na Idade Média. Os "Autos de Fé" foram responsáveis pelo derramamento de muito sangue judeu. Seja como tenha sido e a mando de quem tenha sido, a verdade é que ser Judeu no fim da Idade Média e inícios da Idade Moderna era terrível e temível. 

A imagem da placa fica na antiga Rua da Sinagoga - cotovelo da Rua de São Miguel - onde ficava a Judiaria Nova do Porto de 1386 - feita por ordem de D. João I. Hoje esta placa de 22 anos lembra os 500 anos do edito de expulsão e o de conversão forçada para os judeus em Portugal feito por D. Manuel I. A mando de judeus franceses e documentada pelo historiador judeu Barros Basto, esta placa é uma sensível homenagem e uma dor tornada pública. E é síntese do que é ser judeu até os dias de hoje. 

Eustáquio Silva
Porto, 17 de Maio de 2018 

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