Expulsão dos Judeus da Península Ibérica
31 de Março de 1492. D. Fernando, rei da Sicília e Aragão, e D. Isabel, herdeira aclamada de Castela e rainha de Leão e da Galiza assinaram em Alhambra, na Granada Andaluza, um decreto. Tal decreto foi baptizado como Édito e dava a todo o Judeu, de qualquer que fosse a sua origem, estrato social, sexo ou idade, o tempo de quatro meses para abandonar o país cristão. Era a sentença de saída. Era a expulsão daqueles que séculos antes habitaram até então pacificamente o solo oriental da Península Ibérica.
Diz Artur Barros Basto que desde as guerras hebraicas com os sírios, guerras estas pós-alexandrinas, ou até mesmo antes disto, famílias judaicas migraram ao solo ibérico para manter-se e fugir do horror da perseguição. Estamos a falar em séculos anteriores. Mas acharam ser a hora de os judeus saírem de Espanha e assim se fez como diz a cópia manuscrita e selada pelos reis posta abaixo.
Os dias sombrios apenas começavam a surgir. Tementes da própria vida, os mais abastados judeus "compraram" a protecção no reino vizinho, do rei doente D. João II, que fez com que entrassem a oito cruzados por pessoa. O acordo previa uma diáspora posterior. O "Príncipe Perfeito" queria garantias de paz com o reino vizinho e tinha pretensões e diplomacias com Roma a cumprir. Dava-se assim uma "liberdade" comprava a moedas e por pouco tempo.
O mesmo D. João II resolveu povoar a Ilha descoberta de São Tomé, em África, então resolveu retirar dos pais, os judeus púberes e jovens para fazer isto. Iriam lidar com a gente local, procriar com as mulheres e povoar o espaço. Muitos não resistiram às adversidades do local e pereceram. Muitos não voltaram a dar notícias até hoje. Muitos simplesmente tiveram os seus nomes limpos da história sem mesmo fazer nada para gravá-los.
Pouco depois, em 1495, morre D. João II e assume o trono o irmão de sua esposa D. Manuel I. A princípio promulga um decreto no qual extingue a cláusula de seu antecessor dos varões judeus terem de "povoar" São Tomé. Toma, assim, uma medida simpática ao povo judaico que goza que curta, mas relativa paz.
Entretanto, o "Venturoso" tinha planos políticos. Entre eles o de unir as casas de Portugal e Espanha pelo casamento com D. Isabel, filha dos Reis Católicos. De lá veio a condição: só haveria casamento se se entregasse a cabeça dos judeus fugidos e dos nativos, ou melhor, se os judeus fossem totalmente expulsos também de Portugal.
Muge, em 05 de Dezembro de 1496 viu isto acontecer. O Édito de Expulsão contra Judeus lançava sobre estes o prazo de alguns meses ou, dias depois, num adendo ao documento, a opção da conversão compulsiva como forma de permanecer-se em Portugal. Os Sefarditas, principal maioria dos judeus da Península, não poderiam mais ir a canto algum. Ou iam, pelo mar Mediterrâneo a terras mais hospitaleiras, ou iam ao norte da África, ainda receptiva, ou desbravavam o mar em busca das novas terras da América. Assim chegaram anos depois ao Recife-Brasil para fundar a primeira Sinagoga das Américas.
Alhambra e depois Muge assistiram ao que houvera em Jerusalém, na Canaã prometida; que viriam a presenciar depois em tempos mais sombrios como o Nazismo e do actual antissemitismo. Os judeus simplesmente foram "arrancados" de suas casas e haveres, vítimas fáceis dos autos de fé da Inquisição e, por fim, dizimados nas terras que primeiro chegaram e que por muito ajudaram a expandir. As páginas negras da história tendem a ser esquecidas e esta é uma delas...
Eustáquio Silva
03 de Junho de 2018.
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