O Uno de Plotino
Ao contrário do que se possa pensar, e até mesmo do que fora intentado por Plotino enquanto um 'continuador de Platão', o sábio de Licópolis foi original. E a sua maior originalidade está justamente onde ela não parece situar-se, a saber:no seu tão falado, e pouco conhecido, conceito de 'Uno'.
Base e substrato mor de sua filosofia, o Uno plotiniano abandona claramente a noção de identidade entre conhecer e ser e coloca-se anterior a ambos. O Uno é aquilo que precede o ser (dá-lhe origem). Aquilo que não pode ser dito nem pensado, pois antecede toda a linguagem e pensamento. Aquilo que não ter forma e, tampouco, conteúdo, pois está anterior a tudo. Neste sentido o Uno, que tem este nome por ser, na linguagem comum, a única forma possível de nominar este conceito, não é algo nem alguém. não tem pessoalidade. Muito menos é o sínolo aristotélico ou o "eidós" ou "essência" platónica, coisas não possíveis fora de uma ontologia. O Uno é quem proporciona ser ao ser, forma à forma, matéria à matéria, em graus hierárquicos contidos em sua percepção de mundo. A marcante diferença entre os conceitos platónico-aristotélicos e o conceito plotiniano estaria subjacente a um critério ontológico: as ideias e a ideia do bem, que está em todas as demais ideias, é. A substância do Estagirita resolve-se na linguagem a partir do verbo e do substantivo "ser" e "o ser", respectivamente. Já para o pensador da antiguidade tardia, discípulo de Amônio Sacas, o Uno nem permanece nas coisas e nem é com as demais, pois é tudo aquilo que está antes do ser e do conter.
Por isto conhecido como pensador da unidade - mas uma unidade não entre ser e conhecer, ou ser e pensar, em termos parmenídicos - Plotino deriva do Uno, pelo processo de Processão (Próodos) o pensamento, que é idêntico ao espírito e deste a alma, componentes da tríade metafísica plotiniana denominada "hipóstases".
Antes do começo há o Uno. Pelo Uno, através da processão passam a existir, ou a ser: Espírito, e partir deste emerge a Alma.
Ainda aqui existe uma característica peculiar ao Uno: na sexta (e última) Enéada, vê-se que o movimento de criação do mundo sensível - mundo este que está no desenho final para aquém da alma - um movimento de regresso à origem. A fixação deste ponto foi primordial a Santo Agostinho para determinarem uma concepção de Deus nos tempos patrísticos. Somente com esta visão aquilo contido no Livro do Génesis 1, 3 - "Do pó viemos ao pó voltaremos" - tem uma analogia acordante. Facto este que torna Plotino um lugar marcado de reflexão para não só cristãos, mas também judeus e, até mesmo, muçulmanos. Fica latente a importância do sábio de Licópolis para toda a experiência teológica da Alta Idade Média.
Antes do começo há o Uno. Pelo Uno, através da processão passam a existir, ou a ser: Espírito, e partir deste emerge a Alma.
Ainda aqui existe uma característica peculiar ao Uno: na sexta (e última) Enéada, vê-se que o movimento de criação do mundo sensível - mundo este que está no desenho final para aquém da alma - um movimento de regresso à origem. A fixação deste ponto foi primordial a Santo Agostinho para determinarem uma concepção de Deus nos tempos patrísticos. Somente com esta visão aquilo contido no Livro do Génesis 1, 3 - "Do pó viemos ao pó voltaremos" - tem uma analogia acordante. Facto este que torna Plotino um lugar marcado de reflexão para não só cristãos, mas também judeus e, até mesmo, muçulmanos. Fica latente a importância do sábio de Licópolis para toda a experiência teológica da Alta Idade Média.
1- Apesar de uma dinâmica condizente com os termos metodológicos e às conclusões gerais do platonismo da Academia, Plotino carrega o rótulo de original justamente porque obtém resultados diferentes metafisicamente do seu mestre inspirador. E, ainda, modelos distintos de Aristóteles, a quem também acede sempre que possível.
2- Por, a exemplo de Sócrates, ser um mestre da oralidade, Plotino pode ser concebido como não existindo fora do relato de seus discípulos, em particular Porfírio. Mas tal como Platão enquanto discípulo de Sócrates torna evidente a sua filiação teórica na primeira série de seus diálogos, Plotino distingui-se de Porfírio de Tiro em muitos aspectos cuja presença pode ser vista nos escritos dos dois. Uma filiação não significa uma repetição.
3- Plotino viveu muitos séculos depois de Platão e Aristóteles, podendo - e o fez - acrescer elementos puramente novos em relações aos dois sábios clássicos.
Eustáquio Silva
Porto, 30 de Março de 2018.
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