Eliot e meus versos
T. S. Eliot (1888-1965). Se calhar muitos mal conheçam este nome ao ouvi-lo ou nem saibam quem tenha sido.
Mas este senhor estadunidense de nascimento e britânico por vontade reinventou em mim o sentido de poesia. Antes um inveterado amante das formas, criador romântico, embora de pouco talento, como ainda costumo achar-me, mas tinha os meus textos como um pedaço de carne ferida a latejar dor e versos a todo tempo.
Buscava em um conhecimento filológico, um elixir para que pudesse dizer cada vez mais aquilo que importava na dor, na sensação poética de costume. Com Eliot as coisas mudaram pouco quanto ao anseio, a ascese poética que me deixava sempre em condições de ir ao lado escuro da rua, das palavras, da vida. Mas agora ponderado e mais cadenciado, eu bebi nos versos claros, rectilíneos e constantes que passam mais o desamparo e o pessimismo que a dor latejante e vivida no momento. Eliot ajuda-me a dizer com toda a força e com suavidade aquilo que outrora diria cheio de berros e grunhidos.
A sua poesia tem uma sincera capacidade de transformar, "eliotizar" aquilo em que toca. A sua escrita é seca, embora carregada de sentir e sofrer. Nenhum poeta escolheria, caso pudesse, ser tão angustiado ou ser tão cercado por um sentimento de pobreza de sorrisos. Poeta algum fingiria "uma dor que deveras sente". Mas caso o seja necessário, que o faça com cadência de um crítico, com a bondade de espírito de um romancista, com a subtileza de um contista, ou bem a acidez de um cronista. E isto só aprende-se quando encontrar-se um verdadeiro mestre. Um verdadeiro expositor fiel daquilo que você mesmo gostava de dizer. Se calhar ele, Ezra Pound, Emily Dinckinson, sejam criaturas designadas para sofrer com pontos e vírgulas e isto está demasiado a entrar no meu modo singelo de vida, de um versejador que jamais será tão grande quanto eles, mas que já incorpora tamanha aversão ao rompante e cadencia mais uma dor que será constante para o resto de uma vida.
A importância de Eliot é tamanha que não caberia nesta mensagem, neste pequenino conjunto de palavras. Mas eu a expresso de forma paisagística, ilógica até, para que, por este caos, fique melhor percebido pelo leitor que nascer poeta não é um dom, mas um fenómeno inigualável e assim a vida agraciou Eliot. E poeta tão maior por influenciar gerações de escritores e de incipientes discípulos como eu mesmo considero-me. Que fiquem então estas palavras.
Eustáquio Silva
Porto, 07 de Abril de 2018.
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