João Baptista

Este homem de semblante sereno e prestes a dizer as suas últimas palavras é um dos mais conhecidos anónimos da história. João Baptista, primo de Jesus Cristo, não só foi uma voz a clamar no deserto, mas como uma pira acesa de fé e ascese, zelo de crença. 

Se calhar poucos dediquem-lhe mais do que algumas passagens breves no começo dos Evangelhos. Muitos nem sequer sabem quem tenha sido a não ser "aquele santo" a comemorar-se com festejos e fogueiras ao meio do ano. A Cidade do Porto, por longos séculos, começava seu ano administrativo na data de nascimento deste santo católico, embora lembrado em outras religiões. A sua morte, por desejo caprichoso da enteada do rei judeu é enigmática e foi elemento de inspiração poética de Oscar Wilde em Salomé e da obra de Caravaggio (quadro acima), dentre outras manifestações artísticas. 

Mas há algo a mais neste homem. Há algo que ainda precisa ser dito e falado. Há algo que, pela imagem do pintor italiano, esteja preso à sua boca e que não foi dito em tempo. O místico, ou mesmo, o mítico em torno de sua história persiste mesmo anos depois de sua profissão de fé e resignação que culminou sem resistência com a sua morte. João Baptista tinha na voz o incómodo de muitas cortes e pessoas. Tinha na atitude uma zombaria para com os padrões da época - e também subsequentes. João Baptista era um homem muito além de seu tempo, embora pouco observado ou mesmo sombreado - por si - pela vinda do Messias aguardado dos judeus e aclamado pelos cristãos. 

Mesmo assim neste homem estão as maiores das incógnitas e as mais inspiradas artes. Não é à toa que cá estão dispostas neste blogue cujo objectivo é dizer, por palavras e versos, ou ambos, quem mereça destaque e aqui está a voz que meteu trovoadas num seco e árido deserto. 


Eustáquio Silva
20 de Abril de 2018.

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