Portugal, Camões e o Mar
É desde cedo que Portugal segue a sua verdadeira vocação. Um pequenino reino, escondido pelos reinos conflituosos da actual Espanha (Leão, Castela, Aragão e Navarra), com pouca e mal distribuída gente, vítimas da peste e de guerras mal sucedidas, que nasceu o impulso para o que lhe cerca a oeste: o mar.
Pode-se dizer que por não poder crescer para a terra, pois ainda tínhamos à altura os Mouros a rondar o sul algarvio, Portugal voltou-se para o mar e do mar para ver o mundo. Vasco da Gama foi sem dúvidas o mais destacado homem dos navios e naus portugueses. Todavia alguns esquecem que antes do nobre governador das Índias ter seu nome alçado a "herói do mar", o "nobre povo" português viu levantar-se um homem cujo mérito é ser simplesmente o sonhador, O navegador, o principal patrono da navegação portuguesa e suposto mentor da mítica Escola de Sagres, eis aí o portuense Infante D. Henrique, aquele que Camões cantou em seu poema épico Os Lusíadas. Aquele que foi imortalizado, na rua com seu nome, bem em frente ao Rio Douro a apontar para o outro lado. Aquele cuja casa de suposto nascimento faz descansar uma exposição das sagas e sucessos, glórias e louros da vida marítima da "terra do fado". Foi o Navegador que deu voz à frase "Navegar é preciso" e que mereceu por isso versos do poeta intenso que foi o pai da língua portuguesa, ao menos um deles, Camões.
Portugal - e seus nomes heróicos -; o mar e sua face risonha a este país e Camões, o poeta por excelência da nação portuguesa, são raios luminosos de um passado superno. "Pelas brumas da memória", vai-se a ver Portugal reluzir com sua história de colossos e feitos. E pena que não devidamente reconhecida e bem contada em terras como o Brasil. Mas é Portugal o apogeu de uma era e o declínio que deu início a outra. O mar era a "viagem espacial" daqueles tempos. O feito português é comparável à chegada humana até a Lua no Século XX ou a corrida espacial que até hoje vemos. Não é torto dizer que sem Portugal não teríamos esta sede pelo desconhecido. Pela grandeza e pelo esforço de seus nervos, Portugal foi tão nobre que ganhou o mar e reluziu poesias. A Mensagem de Fernando Pessoa o que é senão o reconhecimento de um triunfo de séculos a fio?
De uma vacilante ocupação de pessoas a um império onde brotavam riquezas e poder. De um ponto esquecido no mapa europeu ao centro da terra de onde as vias, não mais romanas, mas portuguesas, eram todas tracejadas mar adentro. As rotas marítimas de Portugal são as rotas de um mundo inteiro cabido dentro de um território pequenino. Portugal fez-se assim um dos maiores credos de um tempo. Um sonho que por algum tempo realizou-se. Uma lâmpada acesa de um salto enorme do ser humano a ir pelo mar e a partir do mar até o horizonte e além.
Eustáquio Silva
Porto, 04 de Abril de 2018.
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