Quando escutei Joy Division

Quatro rapazes de Manchester. Um vocalista epiléptico que, aquando de sua entrada na banda, andava com uma jaqueta preta escrita 'HATE'. Uma banda que resolveu chamar-se Warsaw por conta de uma letra de David Bowie no álbum "Low" (primeiro da aclamada "trilogia de Berlim") e depois de um concerto dos Sex Pistols em 1977na cinzenta cidade industrial devastada pela guerra e pela falta de vida. Estes todos são ingredientes secundários e pouco importantes quando aquilo que importa realmente é aquilo que estes quatro jovens produziam de som. 

Eu ouvi este som "dark", angustiado e minimalista pela primeira vez com "Transmission", ao vivo na TV inglesa de 1979. O baixo era de uma linha forte. A bateria tocada com um jeito peculiar, com sons antes não ouvidos, modelo industrial. A guitarra parecia um instrumento minimalista e com sequência de acordes quase como para entrar em transe. Depois disto vinha a voz. Uma voz forte, um tom grave, mas desesperado. Ian Curtis  representava tudo o que era de gótico, no sentido da época, naquela cidade. Era voz de quem não se via. Olhos que captavam poesia e jeito de alguém perdido no mundo. 

"She lost control" vinha como confirmação. E destas todas as músicas eram um misto de dor e incerteza, angústia e pesadelo. Enquanto piorava de saúde e perdia para a depressão ia compondo com mais ardor como um ente rimbaudiano. E a minha sensação não era de mais uma banda soturna, mas da banda soturna por excelência. O álbum póstumo "Closer" e músicas como "Atmosphere" e "The Eternal" só confirmavam-me a teoria: eu não escutaria mais uma banda assim. Nem a agressividade depressiva do Grunge, nem a levada baudelairiana do The Doors, nada era igual aquilo...

Olheis a foto e imaginem estes quatros homens (rapazes) a compor músicas como "Heart and Soul" e perceberão aquilo que vos digo. É diferente. É Joy Division - e não tem nada de local de prazer dos germânicos durante a segunda guerra. Não há prazer em "Love will tear us apart". 



Eustáquio Silva
Porto, 21 de Abril de 2018.

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