Conhecer uma cidade é conhecer a sua história


Ontem resolvi andar à noite por um Porto tranquilo, de temperatura agradável e gente amena. Era uma noite típica de primavera: temperatura na casa dos quinze graus, pessoas à conversa nas ruas e nos cafés. Flores a surgir por todo o lado. Tudo bem bonito para um pedaço de dia qualquer. Para a minha surpresa, diga-se de passagem, retive-me em pensamentos acerca do passado do Porto. O Porto só é a cidade pela qual andei lenta e tranquilamente porque, historicamente, ela foi um cidade que lutou, prosperou, sonhou e realizou como tantas outras cidades no mundo. Em outras palavras, o Porto conhece-se pelo que mostra de seu passado. 

Isto está em seu rosto medieval e nas suas construções modernas. Da muralha velha até a Praça da República ou a Praça do Exército Libertador bem perto a Prelada. São estes os ingredientes que juntos formam o imaginário da cidade. Nunca o contrário. Nunca sob outra perspectiva. O mundo portuense transparece em cada passeio e isto é em todo burgo globo afora. O dito aqui parece absurdamente óbvio, mas é espantoso reflectir que tenha quem não concorde com isto. Tenha quem tente montar uma cidade por um partido político, por um evento social, por uma ideologia de um grupo ou vários. Classificar uma cidade assim é matá-la completamente. Seria um absurdo imaginar o Porto sob cores que não fossem as suas próprias. Na bandeira portuense tanto o emblema como as cores nada são para além de marcos históricos. 

O erro de académicos claramente empenhado com lados, seja que lado for, é o de encapsular cidades em seus modos de pensar, ver as coisas. Isto sabe à loucura. Pois é exactamente o que houve na Cordoaria, nos portões da antiga Judiaria, nos horrendos "Autos da Fé" que importam, não aquilo que pretendem fazer com isto. Evidentemente que os mortos não defendem-se, nem possuem advogados competentes. E devido a isto as suas vozes podem perder-se no tanto de impropriedades contadas por alucinados escritores de livros que é suposto serem didácticos. Afora isto, o que tendemos a ver é espuma irrelevante. 

A verdade é que o Porto que vi ontem é o Porto que existe de facto. O Porto que transborda de seu passado até derramar-se no presente como Rio da Vila ao Douro e o Douro ao Mar. Quebrem-se as verdadeiras amarras intelectuais e que se possa perceber o extremamente simples: uma cidade é o seu presente somado a seu passado. Apenas isto. E nós veremos com esclarecimento maior daquilo que estamos a falar. 
E viva uma cidade em que possamos andar tranquilamente tarde da noite sem ser incomodado nem incomodar ninguém. Retrato fiel de um país tranquilo. 


Eustáquio Silva 
Porto, 31 de Maio de 2018.

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