Política: vocação ou paradoxo humano?


Max Weber, em seu ensaio sobre política, foi bem claro: há quem esteja na política por vocação e quem esteja na política por profissão. Benefícios ambos angariam. Ideia de poder ambos possuem. Mas aquilo que, terminantemente, diferencia um do outro é que para o segundo a política é um meio de se chegar a outros objectivos e para o outro é um fim através do qual usa a si como meio de uma melhor obtenção. 

É tão claro quanto isso. Weber não sobre do mal da "vocação tratadística" que acomete tantos e tantos escritores da velha Alemanha, mesmo antes ou depois da República de Weimar. Por isso a política, para ele, pode ser sim uma vocação pela qual pode-se chegar a um lugar melhor. Mesmo com tantos exemplos práticos contrários, a sua digamos "esperança" é quase uma propaganda de alguém direccionado para os ditames da "Ágora". Isto rendeu-lhe, como para muitos escritores da viragem do século, o rótulo de "pai de Hitler e do nazismo" enquanto ideologia. Ledo e infame engano. Mas digamos que mesmo com sua perspicácia e retidão de conhecimento o problema persiste: a política é mesmo uma vocação?

Temos outra interpretação possível. 

Digamos que tenhamos lido, assim como As Farpas, o grande conto O Mandarim de Eça de Queirós e tenhamos tomado-lhe de empréstimo o paradoxo: é possível, sabendo da impunidade, que um homem mantenha a sua chama moral diante de uma larga fortuna (vantagem) que um crime possa trazer? Ao invés de um assassinato ponhamos os crimes de "colarinho branco". Será que alguém entraria e permaneceria na política vocacionado mesmo com a vantagem estampada em sua caminhada? É possível que isto aconteça? Os factos dizem-nos que não. E o dilema do título resolve-se rapidamente em: o modelo humano é o de uma autêntica imoralidade política. Separar a moral da política, assim como fez Maquiavel, não é de todo o problema, mas é o de anular a moral em prol da política que tornou-se o verdadeiro paradoxo de nossos tempos. A cada escândalo e a cada grande homem público preso e/ou acusado de crimes inacreditáveis, nós temos a certeza que o homem corrompe-se sempre por e de alguma forma. 

Nesta o insigne sociólogo parece mais ficcional do que o realista português e ter perdido este embate e esta ideia de natureza - racional ou irracional, no sentido weberiano - humana. 
No fim das contas tudo termina em poucas coisas a comemorar... 


Eustáquio Silva 
Porto, 11 de Maio de 2018

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